Nistagmo


As coisas se
movem
Mas estão
paradas
E não há
esperança
Num copo de
agonias
Aqui onde os dias são
vastos
Aqui onde as noites são
vazias
E as mentes são
complexas
Você é capaz de entender a
sua?
Face a face com a
solidão
Só um frasco de éter como
companhia
A delicadeza está em não ser
humano
A graça de tudo é não sentir-se
vivo
Perder o foco é perder uma
dádiva
Minhas pupilas estão
cansadas
Mas o sangue ainda
corre
Por caminhos
incertos.

Minha idiossincrasia é o meu refúgio


Brinco com palavras.
Delas extraio o que não procuro:
Um ponto de fuga
Atrás de um muro,
Um sentido inexato,
Insípida verdade.

Flerto com palavras.
Busco a mais bela,
A que fale pouco,
Mas que diga muito.
A que transpasse
Tempo e espaço.

Sofro com palavras.
Não com as ditas,
Mas com as não proferidas.
Feridas abertas,
Portas fechadas,
Oportunidades perdidas.

Sangro com palavras.
Talho o papel com aquilo que sinto.
Sendo sincero
Confesso que minto,
Apenas finjo
Seguir meu instinto.

{A minha idiossincrasia é o meu refúgio.}

                               Gian

Optimistic Vortex


Meio fora de órbita
Fora desse planeta
Ainda bem que a insanidade existe
E ainda existem as tardes de domingo
Ainda bem que os ventos sopram para o norte
Ainda bem que enquanto você dorme
Há um sol delirante
Do outro lado do mundo
Eu fiz minhas próprias escolhas
Mas não foi por mal
Foi apenas por uma coisa
Conhecida como amor
Ainda bem que enquanto caio
O paraquedas está aberto
E a vista aqui de cima
É simplesmente deslumbrante
Ainda bem que existe a música
E existem bons ouvidos
Capazes de perceber o ritmo
Que não se ouve
Ainda bem que existe a melancolia
Das noites chuvosas
E a esperança de que as coisas melhorem
Ainda bem que existem os sorrisos
Mas também existem as lágrimas
De vitória ou de derrota
E por trás das lágrimas
Escondem-se os olhos
E por trás dos olhos
Esconde-se alguém que sente
E vive meio fora de órbita
Fora da realidade
Dentro da serenidade

                           Gian

Síndrome de Tourette


E eram os mesmos motivos de sempre
E os mesmos erros
De mil maneiras diferentes
Sempre uma desculpa para ferir
Quem já está dilacerado
Mas não dá para curar
Um coração convulso
E um espírito machucado

Sempre de um jeito indiferente
Meigo, atroz e displicente
Com uma certeza contingente
Do que me faz tão descontente

A avidez virou mania
Da saudade fez-se agonia
Já não sinto o que eu sentia
Hoje me afogo em apatia

E de tudo, o que me resta?
Essa vodka indigesta
Disforia desonesta
Noite fria, fim de festa

Ingenuidade
É não saber que
Entre as roseiras existem espinhos

Serei então culpado
Por não notar
As feridas abertas?

                                                       Gian

Le sourire du soldat


Beije a tez do jovem mancebo
Ele não voltará dessa vez
Esta é a derradeira
É a última e a primeira

Porque numa guerra
Quem ganha é a estupidez
Porque depois que se morre
Não importa o que você fez

No campo de batalha
Ele enxerga a triste bruma
E seu peito se pergunta:
Dez mil vidas valem mais do que uma?

Mas abaixar as armas
É atitude de covarde
E de súbito ele escuta:
Vá em frente, avant-garde

E pelos becos escuros
O inimigo ele pressente
Só não pressente a dor da bala
Que o atinge mansamente

Enquanto o gosto amargo do sangue
Lhe corta a respiração
Ele vê que ao seu lado descansa
O corpo de seu irmão

Beije a tez do jovem mancebo
Você não o verá outra vez
Guarde no porta-retrato
O sorriso do soldado francês


Mais um sorriso despedaçado
Pela bélica insensatez

                              Gian

Cidadão de Plástico


Era ontem, não fosse sempre
Densa nuvem radioativa
Blocos inertes de concreto
E uma tristeza desmedida

E o cidadão de plástico
Sabe que sua cidade está morta

Era quando, embora hoje
Do passado fez-se breve
Cruel chama que derrete
Timidez que não se atreve

 E o cidadão de plástico
Sabe que sua esperança lhe corta

Era um sonho, distante dorme
A despeito da balbúrdia
Olhos negros em reflexos
Faz-se mister ter concórdia

E o cidadão de plástico
A indiferença suporta

Era simples e inexato
Acalmar o medo indômito
Desbravar a velha sina
Libertar o desejo intrépido

E o cidadão de plástico
Tem poliestireno nas veias
[Mas o cidadão de plástico tem um coração de verdade]

                        Gian

Síncope nº 13



Retirem meu sistema límbico
Eu não quero mais chorar
Retirem meu sistema límbico
Eu não quero mais sentir
Retirem meu sistema límbico
Eu não quero mais amar
Retirem meu sistema límbico
Eu não quero mais sorrir
Retirem meu sistema límbico
Eu não quero mais sofrer
Nem tampouco te odiar
Eu não quero mais viver
Muito menos te matar


Retirem
E coloquem no lugar
Um dispositivo anti-alegria
Anti-pseudo-euforia
Anti- noite e anti- dia
Anti-falsidade, anti-hipocrisia
E me ensinem o que eu já sabia
E me mostrem o que eu mais temia


Congelem meu sistema límbico
Conservem essa utopia
Distribuam meu sistema límbico
Lord Byron o adoraria

                                 Gian

Sens De La Discorde


Sou o oposto daquilo que faço
E me desfaço
Em lástimas
E me esfacelo
Em prantos
Sou um pouco de quase tudo
Muito pouco
Ou quase nada
Sou o rumo certo
Da estrada errada
De uma vida errante
O alvorecer de primavera
Ou a ilusão de uma quimera
O fogo fátuo
Fatidicamente esparso
Esparsadamente organizado
Sou o dia de trabalho
De luta
De labuta
Sou a falta de nexo
A falta de conduta
Sou o início do fim
Sou o antônimo de mim
Sou o que sou
(ou o que poderia ser)

                                Gian

índigo blue


Num céu azul
Índigo
Um pouco de frio
Nórdico
Nesse dia tão
Sórdido
O nosso elemento
Místico
Um copo com gelo
Cúbico
Com doses de ácido
Ascórbico
E um cheiro de enxofre
Rômbico
Um tanto quanto
Estrábico
Sentindo um vazio
Fóbico
Que afeta o lobo
Límbico
Um termo
Monossilábico
Escrito em dialeto
Arábico
Formando um grande
Código
Em meio ao passeio
Público
A volta do filho
Pródigo
A imagem do riso
Cínico
O luto de nosso
Síndico
A morte que vem de
Súbito
Um triste evento
Trágico
Num dia surreal e
Mágico.

                          Gian

Aonde quer que eu vá - seniors (paralamas)

Seniors - Como eu quero (kid abelha)

Perfeita Assimetria


Vamos comemorar a nossa falta de bom senso
Vamos fazer da anarquia a nossa bandeira
Vamos depor o presidente
E instituir uma ditadura
A ditadura do consumo
A ditadura da indiferença
A tudo que não nos é intrínseco
Vamos celebrar o medo
O medo da dor
O medo do amor
Vamos brindar a violência
A violência gratuita
Na sua forma nua e crua
Vamos venerar o sensacionalismo
E aplaudir as obscenidades que vemos na TV
Vamos assassinar nossos ideais
Vamos destruir nossos valores
O nosso caráter é uma piada
Vamos dançar com o perigo
Pular amarelinha no campo minado
Andar numa corda bamba a 200 metros de altura
Vamos brincar de roleta russa
Podemos ter a sorte de encontrar a bala
Vamos nos jogar do prédio mais alto
Vamos beber até cair
Como se fossemos idiotas
(pois idiotas nós somos)
Vamos nos envenenar
Com nossas próprias palavras ácidas
Vamos engolir a nossa língua
E deglutir nossas mentiras
Vamos mergulhar
Num mar de poeira
Vamos viajar
Até lugar nenhum
Vamos escolher
O caminho mais difícil
Vamos abrir nossas janelas
E fechar nossos corações
Vamos cantar canções de saudade
Saudade daquilo que já esquecemos
Vamos inalar um pouco de monóxido de carbono
E parar de respirar por algumas horas
Vamos rejeitar os padrões
Vamos valorizar o outlier
Vamos enterrar tudo que é simétrico
Vamos fazer da assimetria a nossa lei

Gian

Transtorno bipolar


Sorrindo
Com lágrimas nos olhos
Gargalhadas sorumbáticas
Quebrando o silêncio
Euforia e disforia
São duas gêmeas siamesas
Que se abraçam e se fundem
Numa tragicomédia da vida real
E quem disse que rir de tudo é desespero
Não sabia o quão desesperante é não rir
Há dias em que a vida tem gosto de tédio
E as tardes têm gosto de remédio
Há dias em que você pede pra não ter nascido
E não deseja abrir os olhos
E enquanto a febre não passa
Eu me divirto com minhas fúteis dores de cabeça
E com as palavras cruzadas que eu não sei resolver
Cada vez mais calado, cada vez mais disperso
Meu mundo é do tamanho de um grão de areia
E minha cidade me consome
Aqui moram pessoas sem rosto e sem nome
Em minha casa sempre há poeira
Revestindo os móveis
E revestindo os pulmões
Ontem pensei em me matar
Mas hoje você me sorriu
E amanhã?
O amanhã é uma incógnita
Tão fria quanto um cubo de gelo
Tão cruel quanto o pior dos algozes
E o pior dos algozes sou eu
Pois sou o meu próprio carrasco
O mocinho e o bandido
O herói e o vilão
Mr. Hyde e Dr. Jekyll eram a mesma pessoa
Duas faces da mesma moeda
Dois lados de uma mesma verdade
Agora estou tão cansado
A ponto de querer correr uma maratona
Agora estou tão animado
A ponto de querer dormir a tarde inteira
Ao final do dia sempre fica a mesma pergunta:
Por que faz tanto frio nas noites de verão?

                                                                       Gian

Vício


Uns cheiram éter
Outros cocaína
Alguns fumam maconha
E há os que injetam heroína
Também há quem prefira ecstasy
E quem use anfetamina...
Quanto a mim?
Eu escrevo poesias.

                           Gian

Quão perto é o longe?


Estamos tão perto
E tão longe
Tão longe de sermos aquilo que eu pensava
Tão longe do mundo
Tão longe de tudo que sonhava
Quando foi que tudo se perdeu?
E quem mais perdeu foi você ou fui eu?
O que mais corta é a sua indiferença
Temperada com esse sorriso cativante
Difícil é tentar esquecer
Difícil é ver você assim distante
E se palavras não valem nada
Então o melhor é ficar calado
Com meu espírito tosco
Com meu semblante tosco
Com esse tosco coração
Que por ti não foi lapidado
Eu sei que sou apenas um tolo
Por mim mesmo enganado
Difícil não é estar longe
Difícil é estar longe do seu lado
                                                  
                                                              Gian

À descoberta do amor - Mahatma Ghandi

Ensaia um sorriso e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança e vive à sua luz.
Enriquece-te de bondade e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor e fá-lo conhecer ao mundo.

                                                                 Mahatma Ghandi

Ele só tinha dezesseis, que isso sirva de aviso pra vocês

Pra quem não conhece, a música "dezesseis", da Legião Urbana, tem a letra baseada em um enredo, contando uma estória, no mesmo estilo de "Eduardo e Mônica" e "Faroeste Caboclo".



E na saída da aula, foi estranho e bonito
Todo mundo cantando baixinho:
Strawberry Fields Forever

Eu mudo


Me disseram pra mudar
Então
Eu mudo
Transformo tudo

E mesmo com tudo
Transformado
Eu mudo
Calado em mim

Sábio aquele que disse: mais preocupante que o grito dos maus é o silêncio dos bons

                                      Gian

Fim de férias ...e young folks

Música: Young folks
Artista: Peter, Bjorn & John

Música "Aos meus heróis"

Encontrei a letra dessa música e achei interessante. Ela foi composta por Julinho Marassi e Gutemberg, dois músicos do rio de janeiro. "Aos meus heróis" foi escrita, segundo Julinho, "por saudade da mpb e de escutar todos esses artistas" que fizeram parte de sua juventude. Abaixo está um vídeo da música (as imagens e o áudio não estão muito bons).


Música: "Aos meus heróis"
Composição : Júlio Marassi e Gutemberg

Faz muito tempo que eu não escrevo nada,
Acho que foi porque a TV ficou ligada
Me esqueci que devo achar uma saída
E usar palavras pra mudar a sua vida.

Quero fazer uma canção mais delicada,
Sem criticar, sem agredir, sem dar pancada,
Mas não consigo concordar com esse sistema
E quero abrir sua cabeça pro meu tema

Que fique claro, a juventude não tem culpa.
É o eletronic fundindo a sua cuca.
Eu também gosto de dançar o pancadão,
Mas é saudável te dar outra opção.

Os meus heróis estão calados nessa hora,
Pois já fizeram e escreveram a sua história.
Devagarinho vou achando meu espaço
E não me esqueço das riquezas do passado.

Eu quero “a benção” de Vinícius de Morais,
O Belchior cantando “como nossos pais”,
E “se eu quiser falar com…” Gil sobre o Flamengo,
“O que será” que o nosso Chico tá escrevendo.

Aquelas “rosas” já “não falam” de Cartola
E do Cazuza “te pegando na escola”.
To com saudades de Jobim com seu piano,
Do Fábio Jr. Com seus “20 e poucos anos”.

Se o Renato teve seu “tempo perdido”,
O Rei Roberto “outra vez” o mais querido.
A “agonia” do Oswaldo Montenegro
Ao ver que a porta já não tem mais nem segredos.

Ter tido a “sorte” de escutar o Taiguara
E “Madalena” de Ivan Lins, beleza rara.
Ver a “morena tropicana” do Alceu,
Marisa Monte me dizendo “beija eu”
Beija eu, Beija eu Deixa que eu seja eu
Beija eu, beija eu deixa qe eu seja eu

O Zé Rodrix em sua “casa no campo”
Levou Geraldo pra cantar no “dia branco”.
No “chão de giz” do Zé Ramalho eu escrevi
Eu vi Lulu, Benjor, Tim Maia e Rita Lee.

Pedir ao Beto um novo “sol de primavera”,
Ver o Toquinho retocando a “aquarela”,
Ouvir o Milton “lá no clube da esquina”
Cantando ao lado da rainha Elis Regina.

Quero “sem lenço e documento” o Caetano
O Djavan mostrando a cor do “oceano”.
Vou “caminhando e cantando” com o Vandré
E a outra vida, Gonzaguinha, “o que é?”

Atenção DJ faça a sua parte,
Não copie os outros, seja mais “smart”.
Na rádio ou na pista mude a seqüência,
Mexa com as pessoas e com a consciência.

Se você não toca letra inteligente
Fica dominada, limitada a mente.
Faça refletir DJ, não se esqueça,
Mexa o popozão, mas também a cabeça

Em dúvida

Se compro um divã,
escrevo um poema,
reformo o mundo,
ou lavo os dentes.

Ou, ou,
quem sabe,
nenhuma alternativa.

Dúvida, dívida das
minhas certezas.
Tantas e tantas, por
eternos tempos que a
cada instante se
transformam em
interrogações, exclamações,
dor, choro e até riso
cínico.

                    Jacob Pinheiro Goldberg

Beirut


Beirut é o nome de uma banda americana originária de Santa Fé, Novo México, e criada em 2006, pelo vocalista Zach Condon.
Escutei o Beirut pela primeira vez através da minissérie Capitu, exibida há alguns anos na globo, e desde então passei a conhecer mais sobre a banda. Com um som inovador, que mistura elementos do folk, do pop e da música do leste europeu, o grupo se utiliza de vários instrumentos musicais, como violoncelos, violinos, ukuleles, saxofones, trompetes e sanfonas, os quais, unidos a voz melodramática de Condon, resultam em algo inusitado.
A banda no ínicio não teve seu valor reconhecido. As coisas só começaram a melhorar quando eles lançaram o CD "Gulag Orkestar", sobre o qual a imprensa musical britânica fez a seguinte crítica: " Um sublime misto de otimismo e de demissão... Um álbum maravilhosamente estranho e maravilhoso."
Abaixo, o clipe da música mais conhecida do grupo: "Elephant Gun".



Os caras também participaram de um projeto de um site francês, no qual gravaram algumas músicas ao vivo em ruas e cafeterias de algumas cidades. Abaixo, o vídeo da música "Nantes", gravado nas ruas de Paris.



Destaque também para as músicas "Postcards from Italy", "Scenic World", "The Penalty" e "Transatlantique".

après-midi pluvieux


Vendo a chuva fina cair no telhado
O horizonte parece embaçado
Enquanto gotas respingam na vidraça
E a brisa gelada sopra em minha face

Tenho pensado em tanta coisa nestes dias
Tenho buscado o porquê de coisas inexplicáveis
Tenho tentado dar vida ao que não existe
Tenho saudades dos momentos que ainda não vivi

A chuva abafa o som do silêncio
E o silêncio é o que há de mais valioso
Palavras são apenas palavras
Que dizem muito pouco

As luzes da cidade se acendem
E a tarde parece ir embora
Como a água
Que escorre pelas mãos

Junto  com a tarde se vão meus pensamentos

Gian

Weezer - Perfect Situation

Weezer é uma banda estado-unidense de rock alternativo, formada em fevereiro de 1992. Até hoje, lançou sete álbuns, um EP, um DVD e mais recentemente um álbum remasterizado de seu álbum de estréia, com algumas músicas adicionais. Atualmente, a banda é formada por Rivers Cuomo (vocal e guitarra), Brian Bell (guitarra), Scott Shriner (baixo), Patrick Wilson (bateria). As principais características da banda são o estilo nerd e os clipes sempre criativos e irreverentes.


No clipe "Perfect Situation", que conta com a participação da atriz Elisha Cuthbert, é inventada uma história para contar como o Weezer foi criado.




Confira também os clipes de "Sland in the sun", "Keep fishin (com a participação dos muppets)", "Pork and beans" e "Beverly Hills".

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

                           Carlos Drummond de Andrade